domingo, 9 de abril de 2006

BÁRBARA

Pensei em inaugurar esse blog com um texto que escrevi sobre uma das pessoas que mais amo no mundo, minha irmã...esse texto surgiu depois de uma sessão de acupuntura, que mexeu demais com as emoções e por isso foi pro papel.
Ela costuma me chamar de irmãe...aqui conto o primeiro dia da minha irmã-filha-amiga-companheira.

A sessão...

Relaxamento induzido.

Fui levada a imaginar, de olhos fechados, uma luz clara que entrasse no meu corpo e fosse relaxando cada região. Era difícil visualizar uma cor, a única luz que vinha era escura. Depois de alguns minutos pude limpá-la e foi ficando azul, bem clara, quase branca.
Fui levada a um túnel, era uma caverna escura e fria, estava sozinha.
Andei um pouco pelo corredor da caverna e fui levada a uma porta.


A primeira porta

- Quando eu der autorização você vai abrir essa porta e voltar para o dia mais feliz de sua vida.
Pronto, abra a porta.
Que dia é esse?

(Essa era a Daniela falando comigo)

- 25/10/1983
- o que aconteceu nesse dia?
- Minha irmã nasceu.
Eu tinha 9 anos, estava com uniforme do colégio (santa cruz). Na sala de espera do Hospital 9 de Julho eu, pai e Glória.
Glória me ensinava a ler horas em relógios de ponteiro que desenhava para mim.
Mal podia me concentrar no papel, não parava de olhar para as luzes da sala de parto 2, onde minha mãe estava.
- Gló, falta muito?
- Não sei Mari, jajá seu irmãozinho chega.
- Será que é menino ou menina?
- Não sei.
- Paaaaaaaaiiiiii falta muito?
Papai estava ansioso, preocupado com mamãe que estava lá dentro, sozinha. Naquela época ainda não era permitido assistir o parto. (Ou ele tinha medo e não admitia...) Ele andava de um lado para o outro e eu, vendo aqueles relógios de ponteiro desenhados no papel e pensando comigo.
Mas quando é que esse tempo vai passar e vou ganhar meu irmãozinho?
Pensava na emoção que senti quando estava dentro da sala de aula (2ª série) e a tia Ude me chamou:
- Mariana, vá arrumar suas coisas, chegou a hora e a mamãe já esta indo pro hospital!
Meu Deus! Quanta mistura de sentimentos, tudo ao mesmo tempo agora! A garotinha tímida e calada de óculos e tampão no olho deixou a classe cheia de orgulho e felicidade.
- Agora vou ter um irmãozinho de verdade, só meu!
E corri pra fora da sala em 1 segundo.
Perdida entre pensamentos, relógios de ponteiro, papai, mamãe, menino ou menina!
- Piiiiiiii – toca um apito e a luz rosa da sala 2 acende!
- Paaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!! É uma meninaaaaaaa! A luz é rosa!!! Eu quero ver, eu quero ver paaaaaaiiiiii!
- Calma Maricota! Eles precisam cuidar da sua irmãzinha e da mamãe primeiro.
- Mas paaaaaaaaiii, é minha irmã e eu quero ver agora!
- Filha, calma! – e os olhos dele estavam tão cheios de emoção que entendi que deveria esperar.
Ele me pegou no colo e juntos choramos em silencio.
Tia Gloria também estava emocionada e assistia a tudo compartilhando aquele momento mágico.
- Gló, como eram os ponteiros na hora que ela nasceu?
- Assim Mari: (e ela desenhou um relógio de ponteiro que indicava 2:45min)
Aqueles minutos de testes e limpeza das coisas do bebê pareciam uma eternidade!
Mamãe queria que a pequena se chamasse Paloma (pomba em espanhol) caso fosse menina, assim, poderia apelida-la de Lola. Se fosse menino seria Matheus, ou Lucas, ou Thiago – já não me lembro e isso pouco importa. Até aquele momento era Lola.
Nessa ansiedade do ponteiro que parou de girar e eu no colo de papai, uma porta se abriu e de lá saiu uma enfermeira empurrando um carrinho de metal bem grande. Mais parecia uma caixona.
- Sr. Miguel, esta é sua filha!
- Paaaaaiiiiiiiii!!!
Corremos os três, eu, papai e Glória. Debrucei-me sobre o carrinho e lá estava ela.
Tão pequenina, encolhida, enrugada, peladinha. Meu Deus! Eu tinha uma irmã!
E ela era tão linda, tão perfeita. Olhinhos pequenos, aquele barulhinho de bebê quando acaba de ver o mundo, um chorinho contido...
- Oooooiiiiiiiiiii!!! Sou sua irmã! Papai, posso pegar?
- Ainda não filha.
E ele olhou para a enfermeira quase que implorando para que ele pudesse pegá-la.
- Maricota, essa é sua irmãzinha.
- Papai (snif...) ela é BÁRBARAAA!!!
- Bárbara? Sim filha, ela é mesmo bárbara.
E a enfermeira a levou para o berçário...
Papai e eu entramos na sala de parto onde mamãe estava. Eu ainda não podia acreditar que aquela coisinha tinha saído de dentro daquele barrigão da minha mãe...e que era NOSSA!!!
- Mããããããeeeeee!!!
E fui pulando pra cima da cama.
Mamãe havia feito cesárea e estava ainda anestesiada e provavelmente dolorida. Deitei com ela.
- Manhêêêê! É minha irmã???
- É sim Maricota, sua irmã!
Eu estava eufórica e tao cheia de orgulho!
- Mas, mããããeeee, ela é tããããoooo pequenininha! E tem um umbigão!
- Filha, é o cordão umbilical, não vai ficar daquele jeito. Com você também foi assim.
- É?
- É filha...
E olhei para meu umbigo. Mamãe devia estar brincando!
Acho que ela deva estar pensando como é que poderia explicar tudo aquilo pra mim depois de um parto!
Ela e papai se olhavam cheios de amor e orgulho! Também pudera! Bárbara mesmo aquela bebezinha. Foi então que papai disse:
- Perê, (é assim que eles se chamam até hoje) quando a Mari a viu, disse que ela era bárbara! Pensei que talvez, não sei...
(* acho que papai não gostava muito de Paloma)
- Bárbara, Miguel!!! Perfeito! Você gosta?
- Sim!
- Bárbara Cordovani! Bem vinda ao mundo...
Foi aí que olhei para eles e me dei conta...
- BÁRBARAAAAAA???
- Você gosta Maricota?
- Mamãe, é lindooo!!!

Foi assim que Bárbara chegou...e que ajudei a escolher o nome da minha irmã...desde então sua beleza tem encantado deuses e mortais por todo canto onde ela passa...



- Mariana, agora você vai deixar esse dia mais feliz da sua vida guardado em um jardim. Despeça-se e todos e traga consigo as emoções. Não esqueça de fechar a porta.

Eu saia de lá e deixava papai, mamãe, Babi, Maricota e Glória.
Voltava à caverna escura. Mal sentia as 15 agulhas espalhadas por todo meu corpo.
E chorava, chorava, chorava...sem parar. Tudo que conseguia pensar era em como queria pegar minha irmã no colo, olhar nos seus olhos e tentar entender o que é esse tanto amor...e ainda tento.

10 comentários:

Anônimo disse...

Muito, muito lindo, Mari!

Anônimo disse...

ebaaaaaaaaaaaaaa
demorou pra criar um blog. Esse texto é lindíssimo!

Anônimo disse...

Lulis: Só tenho um comentario a fazer "schhhhhh...silencio...da pra ouvir o BB Babi chorando de alegria de vir ao mundo".!!!

Anônimo disse...

Ainda estou meio sem reação, irmãe. Amo seu colo. Pode ter certeza que meu amor é recíproco e mesmo não ganhando esse colo no momento, sinto-o sempre vivo, sempre me protegendo, sempre me embalando, sempre me apoiando a enfrentar um mundo tão difícil, com tantas emoções e tantos sentimentos...e quando penso que vou me sufocar de tanta coisa, vejo que há uma mão branquiiinha, que não para de tencionar os dedinhos, com aquelas unhas que eu tanto invejo, sempre pronta para me resgatar. Você é mais que irmãe. E por incrível que pareça, você acaba de me resgatar denovo. Acordei sufocada, acordei triste hoje. Agora já estou vendo à cores...mais uma vez, obrigada.

Anônimo disse...

Feelinge totaaaal !!!!

Anônimo disse...

Poxa querida vc tem que escrever um livro vamos fazer uma campanha pra MARICOTA escritora e irmãe, que todos saibam que é um prazer poder chama-la de irmã ( mesmo que postiça ) mas minha irmã mais velha.
PS.: Quero um livro autografado

Anônimo disse...

Aí sapeca... bárbaro ;)

Anônimo disse...

Vc é uma artista!!! Um ser de outro planeta...
Esse seu dom me encanta!!!
Acho que não só a mim, mas a todos que te rodeiam...
Lindo!!!
Parabéns Mari, Babi...
Beijos
Fer

Anônimo disse...

.
que emoção amore...!!!

Anônimo disse...

Uau Mari!!! A cada dia me surpreendo com as suas delicadas palavras... suaves e comoventes sempre!!! Que privilégio tê-la como amiga!!!