quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Carta à Mariana Corinthiana

Logo após o evento da PUC fui ao RJ à trabalho.
Quando voltei pra casa e acessei meus emails, tive esta linda surpresa de minha mãe...
O assunto da mensagem dizia: Carta à Mariana Corinthiana.
Me emocionei ao ler e agora compartilho com todos. O Corinthians é isso!
Obrigada Mãe...amo você!
Mariana, querida filha.

Terei pouca saudade das coisas que presenciei neste 2006. Louvo nossa saúde, nossos esforços, nossas vidas e torço para que as urnas possam comprometer nossos dirigentes em favor de maior seriedade na conduta das políticas públicas. Estou cansada dos maus exemplos que tenho visto por todos os cantos.
No entanto, esse modesto evento que você, João Paulo, amigos de torcida e a rapaziada da PUC organizaram com enorme envolvimento encheu meu coração de orgulho, por entrar com a parcela de ser sua mãe, coisa de que duvido de quando em vez, reconhecendo sua maior filiação à torcida com paixão corinthiana.
Estou admirada com o testemunho de que é possível transformar raiva, indignação e rebeldia em atitude construtiva, de seriedade e inteireza com a torcida corinthiana com proposta de conscientização e estabelecimento de uma série de reivindicações comprometidas com a sobrevida desse time, que deve muito do seu brilho à lealdade da sua torcida.
Felicito você e os demais organizadores do evento na PUC, Prédio Novo, Sala 333, pela conquista do espaço universitário partilhado com populares e acadêmicos para uma semana de discussões inflamadas, todas as manhãs e noites, com a casa cheia de interessados, pesquisadores, estudantes, ex-jogadores e torcedores de todas as eras, abnegados em transformar os abjetos estatutos atuais do Corinthians, que mantêm políticas obsoletas, corruptas, conforme ouvi nos debates, inclinadas a servir ao continuísmo abusado, que protegido por conselheiros cooptados. Aquele público de jovens e idosos ali estava a pedir nova escala de valores para uma “REFUNDAÇÃO” histórica do Clube tido como mais popular do Brasil.
Entendi que precisa acontecer uma operação mãos-limpas para destituir negociantes oportunistas a serviço de seus próprios interesses. Fiquei atordoada quando ouvi que o número de associados das torcidas uniformizadas já ultrapassa o número de sócios do time propriamente dito, em muitos dígitos.
Felicito você e seus pares pelas reivindicações de que os Gaviões e demais torcidas organizadas, se mobilizem em nome do direito de contemplar e aplaudir um bom futebol e excelente procedimento da platéia, fiel testemunha dessa história singular.
Saboreei a memória da grandeza da Democracia Corinthiana em tempos de combate e resistência ao regime militar, dentro e fora do clube.
O Corinthians fez história e atualmente patina em lodo produzido por interesses que rebaixam o brilho dessa sua grandeza. Esse cenário conspira contra a identificação das crianças com atitudes humilhantes dos jogadores adultos e promovem a recusa a modelos rendidos, envergonhados com os desdobramentos da política dirigente que precisa ser melhor discutida.
Gostei de ver o propósito de vocês, organizadores do evento, atentos para gravar, ouvir propostas, trocar informações e sentimentos de união; transformar a beligerância das torcidas em paciência e compreensão franciscana; orientar atitudes reativas, previsivelmente danosas dessa população ignorada e contrariada em seu desejo de dignidade e vitória do time, para a expectativa de reivindicação de decência na conduta dos responsáveis pela desagregação institucional do time e das torcidas organizadas.
Hoje em dia o técnico do time está revestido de poderes que ultrapassam limites ponderáveis pela falta de rumo e investimento mesquinho em interesses pessoais, não apenas dele, mas, - como de costume, de seu ‘seleto’ time e de todos os que lucram à sua volta.
O trabalho educativo que vocês realizaram, de canalizar as tensões dos torcedores para as reivindicações de melhoria comportamental da diretoria do clube foi o maior mérito dessa rodada de discussões. Nas devidas proporções, isso foi tão grande e sério quanto à população que reelegeu Lula e deverá cobrar suas promessas e propósitos!
Houve inúmeros outros ganhos da semana: vocês proporcionaram reencontros importantes, contatos entre torcidas organizadas; recuperaram ídolos condenados ao anonimato; promoveram exposição de personalidades respeitáveis; apresentaram mulheres responsáveis que não estão ali para exibição de vaidades triviais. Todos os participantes, como você, minha filha, estavam unidos em luta pelos mesmos ideais e pelo direito à escolha de ser torcedor, de ir e vir assistir ao futebol com segurança para ir e voltar vivo e respeitado para casa, com seus filhos, familiares e amigos.
Preocupava-me a tensão experimentada pela torcida testemunha de tantas derrotas. Os debates ajudaram o público a associar os fracassos do time aos reflexos de obscuras transações. Estou certa de que serviu de responsabilização àqueles que rebaixam a dignidade do time. Afinal de contas, as torcidas estão orientadas e politicamente instruídas a nomear representantes a serem autorizados a reivindicarem movimentos de mudança.
Isso é muito bom. Isso motiva toda a sociedade a rever valores e a reconhecer compromissos a serem construídos, partilhados e assumidos pela coletividade.
Percebi que pessoas sensíveis como você, não querem ver corinthianos se matando, se ferindo, ignorando a própria língua e envergonhando-se de sua escolha esportiva no presente ou no futuro. Essa moçada não é manobrável facilmente e não está predisposta, como preconceituosamente se podia supor, a cometer vandalismos, nem injustiças movidas pela indignação contra aqueles que operam acordos à revelia dos desejos dos jogadores e torcedores. O maior sustentáculo dessa população acostumada ao sofrimento é a capacidade de dizer sim ao sentimento de pertença à comunidade corinthiana pela vida afora, - e de dizer NÃO, ao descaso do marketing escuso e das vaidades que destroem perspectivas de união.
Gostei de ver como você é querida, respeitada pelos seus pares, porque trabalha com a mesma seriedade aprendida com nobres jogadores que, no passado, vestiram essa camisa e por ali cunharam marcas com o vinco fundo da honradez, porque sabiam que geravam modelos em você desde pequenina e, portanto, atuavam com a maturidade indispensável para o ofício e a legenda.
A aventura do futebol neste país deve muito ao Corinthians, você sabe disso, por seus estudos e vivência como legítima torcedora que não está passiva à condição de “sofredora”.
Com certeza sua atuação discreta não é em vão em seu anonimato, revela a autonomia da mulher feminina, delicada, bonita, inteligente, que jamais usou subterfúgios para tratar seus companheiros de torcida. Tive prazer ao respirar o ar dessa irmandade nessas horas que aplaudi em pé aos depoimentos de pessoas comuns e conhecidas, todas notáveis pela cobrança de responsabilidades que certamente motivarão movimentos transformadores, sejam por eleições paralelas ou em favor de negociações pela votação de novo estatuto para refundação de uma democracia corinthiana.
Além disso tudo, testemunhei a emoção da filhota ali, carregando equipamentos, bandeiras e distintivos; entusiasmada com os palestrantes e torcedores ávidos por um tratamento adequado ao público com o profissionalismo que todos merecemos na vida em civilidade.
Esse conjunto de forças é prova de que você é mais filha desse amor da família corinthiana do que desta mãe sem time, que cansou de ver a parentada desanimada com o futebol de hoje e prefere se abster dos assuntos e preferências esportivas.

P. S.
1. Eu não entendo nada de futebol. Tento entender o que não tenho: essa paixão corinthiana. Orgulho-me da filha responsável com toda a coletividade comprometida com adequadas cobranças de responsabilidades. Estou certa de reverberarão e motivarão movimentos respeitáveis por eleições paralelas e negociação de novo estatuto, em nome do respeito à História e às torcidas no sentido de possam merecer uma parcela de voto nos destinos da nação corinthiana.
2. Muito obrigada minha filha por você ter aprendido isso tudo com a convivência corinthiana renovada a cada dia: que se respeita e que respeita a sua e as demais torcidas preocupadas com a qualidade do bom futebol e com a civilidade nas arquibancadas.

Com o coração alvinegro de mãe

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

VOZ DA ARQUIBANCADA

Quem já passou por aqui, leu alguma coisa e gostou, pra quem conhece o Informativo da Fiel...feito por 5 mulheres dos Gaviões da Fiel...
E pra quem ama, acima de tudo, o Coringão...
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