quinta-feira, 28 de setembro de 2006

C'est la vie, Jolie!



Faz muito, muito tempo que não consigo escrever nada...
Não saía, nao adianta forçar, né?
No último final de semana fui pra São Luis, Maranhão. Trabalho de novo... aliás, há duas semanas não sei o que é final de semana... trabalho, trabalho, trabalho... o que tem seu lado bom... já que dizem que mente vazia é oficina do diabo... vixe! E por falar nele, deve ter soltado todas as bruxas possíveis... a coisa está feia!
Lá loooonge, no Maranhão, eu pude ver o mar, apreciar um belíssimo por do sol... e pensar... pensar bastante nas pessoas que amo, nas coisas que conquistei, nas que quero conquistar e percebi que ainda não saí muito do lugar...
Pensei nos meus amigos, nos meus amores (já vividos), naqueles que virão, naquele que não acontece...
A coisa mais legal desse trabalho é poder conhecer pessoas novas a cada viagem, redescobrir outras e aprender mais sobre elas.
Pensei no quanto as pessoas se acomodam com a vida que levam e no medo que sentem de viver e arriscar por amor. E no quanto já quebrei a cara por não sentir esse tipo de medo... não sei se isso é bom ou ruim. Só sei que não consigo fugir do que sinto. Pensei na saudade que sinto... na saudade daquela pessoa que amo intensamente, saudade essa que chega a ser exagero, parece que não o vejo há anos... e não é isso. Nao é uma saudade física, é saudade mesmo de carinho. Saudade de viver, do real e não só de sonhar.
Entre tantas reflexões, eu pensei muito na Lulu... e por consequência, na saudade que sentirei dela.
A Lulu é minha irmã gêmea siamesa... fomos separadas na maternidade lá do céu, tenho certeza!
Pensei muito no que escrever pra ela, no que dizer, no carinho que sinto e em dizer a ela tudo que ela me ensinou nesse um ano de convivência.
Na segunda-feira ela foi embora, voltou pra França... foi em busca do futuro dela, até mesmo pra poder voltar pro brasil e quem sabe, casar com o Lu, né?
Nós nos conhecemos no ano passado, mas já haviamos nos encontrado antes, há uns dois anos atrás, quando ela veio pro Brasil da outra vez...
Lulu é prima do Vladi, querido amigo, que a levou pra um jogo do timão... claro! Onde mais a gente conhece pessoas tão maravilhosas?
Em agosto do ano passado recebi um email dela, do nada, querendo inventar alguma surpresa pro aniversário dele... e foi assim que tudo começou...
Eu ele havíamos feito um piercing na língua (é isso mesmo!), e ela quis fazer um também... uma semana depois os dois vieram aqui em casa... os 3 de língua furada... rsrs
Ninguém conseguia falar direito... imagina ela com o leve sotaque francês e suas pérolas, com um piercing na língua? hihihi
Nesse mesmo dia comentei que estava procurando alguém pra morar aqui... menos de um mês depois, a Lulu era minha roommate...
Começamos a nos conhecer e a criar uma cumplicidade sem fim... desde os "pões" que ela comprou logo na primeira semana para o jantar, até a possibilidade de falarmos do tamanho do amor que sentimos uma pela outra...
Da cumplicidade de irmãs mesmo, de falar abertamente sobre tudo, de poder, sem censura, dizer o que pensa, de pegar a roupa da outra no armário sem avisar, de brigar por ciúmes, falha de comunicação, de dar risada das nossas próprias desgraças e frustrações e saber emprestar o ombro pra outra chorar as mágoas. De saber quando é hora de falar e quando é hora de calar. Isso é uma conquista rara.
A Lulu foi uma das conquistas mais raras e valiosas na minha vida... amigo é a gente que escolhe, é a gente que faz... e não é acaso.
Enfim... um ano se passou, entre muitas risadas e conquistas, entre choros e tristezas.
Agora ela esta lá em Dijon fazendo biquinho... e eu estou aqui, fazendo bicão de choro... hehehe
Mas tenho certeza de que logo menos estaremos juntas novamente...
E sabe que com ela aprendi o significado mais puro de uma palavra que uso constantemente...
LEALDADE.
Aquela menina, nos seus 23 anos de vida, me ensinou lições que meus 31 não chegavam nem perto de saber o que era. E é por esse e por outros vários motivos, que amo a minha irmã postiça... só não vou falar muito mais senão vão pensar coisa errada!
O vazio (temporário) que ela deixou é dolorido e às vezes divertido... lembro da bagunça que ela fazia nas coisas dela, do jeito desajeitado que derrubava tudo por onde passava, das pérolas clássicas que soltava... do Bóris fugindo dela quando ela entrava em casa e dizia: amor da minha viiiiiiiidaaaaaaaa e da Mel tentando entender as broncas... (breve explicação: Mel é uma cachorra e Bóris é um gato!) das saladas com nuggets, de quase todas as noites...
Das vezes que ficamos muito loucas rindo da cara de todos e de qualquer Kill Bill na televisão. Dos ensaios dos gaviões e dos milhões de telefonemas diários, mesmo quando não tinha nada pra falar.
C'est la vie, Jolie!
Vixe... que péssimo meu Francês... mas vocês entenderam, né?
Luli... saiba que você é mesmo minha irmã de alma... que você faz muuuuuuuuuuita falta... e que nós todos estamos te esperando de braços abertos no ano que vem... e se você for demorar pra voltar, pode dizer pra "mam", Pololo e Helena prepararem a casa pra virar albergue, porque vamos fazer excursões pela França pra te ver!
Bisous ma Jolie...
I miss you!!!




domingo, 3 de setembro de 2006

ADEUS, CARLITOS

ADEUS, CARLITOS

Durante alguns meses, criou-se uma lenda até com certa razão e com auxílio do criador de que ele era infalível e que suas apresentações deveriam espelhar algo extraordinário. A presença imponente destacava-se sobre a imensidão e a sua confiança e conduta reforçavam todas as teses de sua tremenda capacitação. Da altura de um Davi, porém, ele se transformava ao ter de enfrentar os inúmeros Golias que se lhe apresentavam, tornando-os meros coadjuvantes. Fabuloso, realizava façanhas que poucos tinham visto. Em torno dele os espaços tornavam-se maiúsculos e lhe propiciavam grandes e oportunas ações. Grandioso entre seus pares desfilava como um Midas a dourar quaisquer objetos e embelezava as molduras esportivas. Poderoso, jamais se permitia um gesto de insegurança e transmitia uma carismática e engenhosa postura. Portentoso, chegou a reforçar a tese de que o impossível sempre acontece.
Prodigioso, vestiu-se de rei e se pôs a representar um plebeu que em um golpe se fez servo de Deus e com ele se associou para pintar de metáforas as cores da vida. Excelente foi e espetaculares desempenhos apresentou, salvando a pátria em tantas ocasiões, rimou perfeito com eleito e uma unanimidade se instalou à sua volta. Até mesmo o dramaturgo Nelson Rodrigues aceitaria a idéia de que ela, a unanimidade, aqui não poderia ser burra. Genial e pouco genioso, calma e pacientemente se colocou onde pretendia, tornando-se responsável temporariamente pelo bem-estar da nação. Formidável atleta destacava-se entre tantos por seu trabalho, sua conduta altiva e sua postura especial. Sem exagero diria que, historicamente, jamais havia presenciado tamanho fervor por um estrangeiro nesta terra adubada de estrelas nativas.
Seus pés preciosos como por necessidade utilizavam discretos calçados para preservar a lisura e a ternura que estavam eternamente estampadas em sua expressão mais conhecida, ainda que transfigurada por um acidente, como se fossem extensões definitivas e sem rasuras de sua alma. Este estado de bem-estar e de satisfação prolongou-se por um longo tempo, quase eternizando sua relação com o público, nem sempre fiel. Lembro-me de vários episódios, ainda latentes em minha mente e até por culpa de uma proximidade inescapável, ocorridos nos inesquecíveis jogos em que empurrou a sua equipe a conquistar o Campeonato Brasileiro do ano passado. Em particular nas cobranças de pênalti, situação em que o grande líder é instado a comparecer sem contestação, que, invariavelmente, eram acompanhadas de expressões de absoluta confiança por seus seguidores.

Nesse momento único de um espetáculo de futebol, que normalmente tem vocação coletiva, em que a ação individual é definitivamente a responsável pelo resultado, conseguiu vários feitos extraordinários no conteúdo e principalmente por terem acontecido em ocasiões especiais. Destacava-se pela gana e vontade quando desfilava pelos gramados como que a presentear a tudo e a todos, principalmente a sua torcida, que sempre declara amor aos que dessa forma se comportam. Eis, porém, que surgiu um inimigo mortal que imediatamente passou a incomodá-lo com suas opiniões e atitudes, e nosso herói se deixou abater, passando seriamente a pensar em se afastar daquele meio e principalmente daquela situação.
O período de mais de um ano em que chegou a fazer milagres, como se fosse algo tão normal para ele e que durante o qual foi visto e tratado quase como uma divindade, pouco valeu para a dramática decisão. Podemos dizer que, infelizmente, ele reagiu da forma mais humana possível, pois nem todos conseguem conviver com a arrogância e a prepotência sem que de alguma forma se sintam impelidos a reagir veementemente. Particularmente, quem durante todo esse processo sofreu com as pressões dos que os acompanhavam e que jamais fugiu da responsabilidade. Aqui entra a questão do mérito que deve incontestavelmente servir como referência para qualquer decisão a ser tomada por qualquer comandante. Quando ele não se faz presente, provoca uma onda de insatisfação em seus subordinados difícil de ser contida.
E o nosso herói, até porque possui uma independência que seus companheiros ainda não adquiriram, resolveu abandonar o barco que já se mostra à deriva há algum tempo, e que provavelmente enfrentará ainda grandes tempestades, e voltou para o útero que sempre o protegeu. A sua postura talvez não venha a ser entendida, mas pode e deve ser respeitada. Adeus, Tevez.
(artigo publicado por Dr. Sócrates na revista Carta Capital -28/08)